Agentes Ambientais Indígenas se formam em curso sobre mudanças climáticas

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A formação dos Agentes Ambientais Indígenas (Agamin) fortalece a gestão socioambiental das Terras Indígenas do Oiapoque

Texto: Maria Silveira 5o1m12

Formatura dos Agentes Ambientais Indígenas 2025. (Foto: Maria Silveira/ Iepé)

Após cinco anos de formação e 12 módulos concluídos, 32 Agentes Ambientais Indígenas (Agamin) do Oiapoque celebram sua formatura no curso sobre transformações ambientais e mudanças do clima. A cerimônia ocorreu no dia 28 de março, no Centro de Formação Domingos Santa Rosa, Terra Indígena Uaçá, marcando um momento de reconhecimento e valorização do trabalho desempenhado por esses jovens na conservação e proteção do território.

“Foram muitas lutas e pesquisas desenvolvidas durante esses anos de formação”, disse Lázaro dos Santos, Agamin do povo Galibi Marworno.

Desde 2019, os Agamin participaram de uma formação intensa, baseada em discussões sobre teorias indígenas e não indígenas sobre transformações ambientais, assim como realizaram pesquisas nas aldeias, sistematizando conhecimentos tradicionais sobre os ciclos sazonais, os seus indicadores próprios das transformações ambientais esperadas ao longo do tempo, e as percepções indígenas a respeito das mudanças no clima que vêm ocorrendo. 

O curso, que contou com o apoio de lideranças indígenas e parceiros institucionais, resultou na produção de materiais educativos, como o livro Marcadores do Tempo, e no desenvolvimento de novas pesquisas sobre o impacto das mudanças climáticas nas aldeias.

“Hoje nós temos memória, temos um livro. Nossas pesquisas são importantes para as nossas comunidades. Os marcadores do tempo não são só o que sabemos. Fomos de casa em casa atrás dos mais velhos buscando o nosso conhecimento”, refletiu Rafael Monteiro, Agamin.

A cerimônia de formatura aconteceu no Centro de Formação Domingos Santa Rosa, no Oiapoque. (Foto: Maria Silveira/ Iepé)

A atuação dos Agamin nas aldeias x6fu

Durante a cerimônia de formatura, diversas lideranças indígenas e representantes das instituições FUNAI e ICMBio reforçaram a importância da atuação dos Agamin na defesa do território e na proteção dos recursos naturais. 

Janina Forte, coordenadora da Associação de Mulheres Indígenas em Mutirão (AMIM), uma grande parceira nessa trajetória, comemorou a formatura: “Estamos felizes por poder caminhar junto com vocês. O trabalho dos Agamin é reconhecido e valorizado em todos os lugares, sempre ouvimos elogios pelo compromisso e dedicação de vocês”, relatou. 

Representantes da Associação de Mulheres Indígenas em Mutirão (AMIM) celebram a formatura dos Agamin. (Foto: Maria Silveira/ Iepé)

O tema das queimadas nas Terras Indígenas também foi foco do trabalho dos Agamin ao longo da formação, fruto de um projeto em parceria com a AMIM e o ICMBio. As pesquisas sobre os usos tradicionais do fogo e as discussões sobre orientações para cuidados no novo contexto das mudanças climáticas resultaram em mais uma publicação que tem sido usada nas escolas indígenas.

Além disso, a praga nas roças de mandioca no Oiapoque, como mais um efeito das mudanças climáticas na vida cotidiana dos povos indígenas, foi tema da formação. Os Agamin realizaram pesquisas e experimentos nas aldeias, buscando dimensionar o impacto da praga e identificar formas de lidar com essa doença que acometeu grande parte de suas roças. 

Como multiplicadores de conhecimento, os Agamin levarão adiante as discussões realizadas no âmbito da formação, tanto no sentido de valorizar e sistematizar os conhecimentos tradicionais, como trazer informação sobre outras teorias e práticas relacionadas às mudanças no clima.

Resultados da formação dos Agamin 211oy

Para Rita Lewkowicz, coordenadora do Programa Oiapoque do Iepé, os resultados já são visíveis. “Estamos vendo resultados nas aldeias, como o projeto com os tracajás e os experimentos com as roças para lidar com a praga da mandioca. Nessa nova formação, também tivemos uma maior participação das mulheres, o que enriqueceu as discussões no curso. O tema das mudanças climáticas está em destaque e trazer os povos indígenas para esta discussão é fundamental. Ficamos felizes, hoje é um momento de celebração. Eles também estão se formando como lideranças”, disse.

Atualmente, 16 Agamin estão contratados para atuarem em diferentes áreas temáticas  em seus territórios: 10 indígenas estão trabalhando como extensionistas rurais no Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá (RURAP) e 6 como técnicos em meio ambiente do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Amapá e Norte do Pará – Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI).

“Podem contar com nosso trabalho. Estamos levando essa missão adiante e não vamos desistir. Levamos a sério nosso compromisso com as nossas comunidades”, disse Marinelson dos Santos. 

Marinelson dos Santos discursa ao lado de outros Agamin formandos. (Foto: Maria Silveira/ Iepé)

Mulheres Agamin 4k176k

A presença feminina entre os Agamin foi destaque na formatura. Lideranças e colegas reconheceram a importância da participação das mulheres nesse trabalho. 

Gesilene Forte, emocionada, ressaltou a força e o papel das mulheres na comunidade. “Nós somos um espelho para nossa comunidade. Enquanto mulheres, somos guerreiras, fazemos nosso trabalho e não abaixamos a cabeça. Mostramos que somos capazes e levamos nossa capacidade e habilidades para nossas comunidades”, diz a Agamin.

Mulheres Agamin após receberem o diploma. (Foto: Maria Silveira/ Iepé)

A formação contou com o apoio da Fundação Rainforest da Noruega, Agência sa de Desenvolvimento (AFD/FEEM), do Environmental Defense Fund (EFD) e The Nature Conservancy (TNC). A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio) também são importantes parceiros no apoio ao trabalho com os Agamin.

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(Foto: Maria Silveira/ Iepé)
(Foto: Maria Silveira/ Iepé)
(Foto: Maria Silveira/ Iepé)
(Foto: Maria Silveira/ Iepé)

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