Intercâmbio de Conhecimentos e Práticas sobre a Gestão das Economias Locais Amazônicas

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Troca entre lideranças indígenas do Brasil, Colômbia, Peru e Equador fortalece iniciativas comunitárias e inspira novos caminhos para as economias da sociobiodiversidade

Texto: Julia Affonso 3r536a

Participantes do intercâmbio com seus produtos e artesanatos (Foto: Departamento de Comunicação da FOIRN – DECOM/FOIRN)

Representantes de povos indígenas de quatro países amazônicos estiveram na Casa do Saber da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), em São Gabriel da Cachoeira (AM), para o Intercâmbio de Conhecimentos e Práticas sobre a Gestão das Economias Locais Amazônicas.

O encontro, promovido no final de março pela Aliança Norte-Amazônica (ANA), proporcionou conversas e trocas de experiências sobre iniciativas locais e a oportunidade de conhecer de perto a Casa Wariró. Foi um momento inspirador para diversas organizações e associações indígenas da região norte da Amazônia.

Quem participou 1c1018

Do Brasil, participaram a Associação UASEI, a Associação Wajãpi Terra, Ambiente e Cultura (AWATAC), a Articulação das Mulheres Indígenas Tiriyó, Katxuyana e Txikiyana (AMITIKATXI) e a Associação de Mulheres Indígenas em Mutirão (AMIM). A Colômbia foi representada pela organização Território Indígena Unido de los Ríos Isana y Surubi (TIURIS). Do Equador, estiveram presentes a Biowarmi, a Asociación de Mujeres Waorani del Ecuador (AMWAE) e a organização Mujeres Alfareras Nunkui Nua. Já o Peru foi representado pela Las Mariposas – Associação de Mulheres Bora Artesãs.

Delegação do Amapá e norte do Pará acompanhada pelo Iepé (Foto: Acervo Iepé)

Também participaram assessores técnicos das organizações membro da ANA: Ecociência, Instituto Iepé, Instituto Socioambiental (ISA), Instituto del Bien Común (IBC) e Gaia Amazonas. Além disso, estiveram presentes a coordenação executiva e a equipe de Gestão Regional do Conhecimento (GRC) da ANA.A realização do intercâmbio é um dos desdobramentos do Encontro Regional Conversas da Amazônia. Na edição de 2023, a experiência da Casa Wariró despertou grande interesse e uma visita ao território foi apontada como prioridade pela equipe da GRC.

Primeira parada: Manaus 2j234o

Foram muitos quilômetros percorridos por terra, rio e ar até que o grupo estivesse completo. A primeira parada foi em Manaus (AM), onde visitaram a Galeria Amazônica para conhecer a parceria com o ISA e entender o fluxo de compra e venda com artesãos e artesãs.

Também visitaram o MUSA – Museu da Amazônia, onde conheceram a exposição Amazônia Revelada, subiram no mirante e saborearam um lanche com comidas típicas preparado com carinho por Renata, do projeto Boca da Mata. Depois, participaram de uma roda de conversa com a coordenadora do Programa Rio Negro do ISA e diretores do MUSA.

A força das mulheres e da ancestralidade 64153i

Dona Cecília e Dona Gilda, indígenas do Rio Negro. (Foto: Ana Letícia P. Trindade/ Instituto Socioambiental)

Em São Gabriel da Cachoeira, o mergulho no universo das economias da sociobiodiversidade — especialmente na cadeia do artesanato — começou com a visita à FOIRN. Ali, conheceram sua estrutura organizacional e o papel fundamental das mulheres indígenas na valorização da cultura e na criação da Casa Wariró — Casa de Produtos Indígenas do Rio Negro.

Os relatos de Dona Cecília e Dona Gilda emocionaram e inspiraram a todos. Tairene Karipuna, da Associação UASEI, do Oiapoque (AP), compartilhou como se sentiu representada. Confira o depoimento:

“Foi de suma importância presenciar o relato de criação da Casa Wariró pelas grandes anciãs, que estão até hoje ajudando, como mulheres e lideranças. A trajetória delas mostra o quanto nós mulheres também somos capazes de ficar à frente de uma associação, de ser uma liderança. Isso me tocou porque elas fizeram parte da criação da Casa Wariró e eu fiz parte da criação da UASEI. Estou lá como mulher, mãe e jovem. Vi o quanto essas anciãs lutaram, o preconceito que sofreram. Pude me ver nelas e estou vendo a UASEI crescer cada vez mais” – Tairene Karipuna

Experiências que fortalecem 5s503e

Atualmente, a Casa Wariró conta com 370 artesãos indígenas cadastrados — todos moradores das comunidades de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos — e cerca de 1.500 produtos catalogados.

Mesa de abertura do intercâmbio (Foto: Departamento de Comunicação da FOIRN – DECOM/FOIRN)

Durante o intercâmbio, as conversas giraram em torno da precificação e classificação dos artesanatos, da gestão comercial e do relacionamento com os grupos de artesãos e artesãs. Foi destacada a importância dessas iniciativas para a gestão territorial e para a valorização da transmissão de conhecimento entre gerações.

Representantes dos quatro países compartilharam suas experiências, produtos e formas de organização para a comercialização. Apesar das dificuldades semelhantes, as soluções criativas encontradas em cada território foram acolhidas com interesse e reconhecimento.

Para encerrar a programação, o grupo vivenciou momentos marcantes na Vila Tuyuca e na Comunidade de Itacoatiara, com muita dança, cultura, comida típica e banho de igarapé. Foram momentos de alegria e descontração, mas também de fortalecimento dos laços criados ao longo da semana — deixando em todos a sensação de que o encontro foi apenas o começo.

Participantes do intercâmbio (Foto: Departamento de Comunicação da FOIRN – DECOM/FOIRN)

“Estou muito contente por ter participado desse intercâmbio de conhecimentos, especialmente sobre temas de empreendedorismo construídos por mulheres da Colômbia, Peru, Brasil e Equador. Levo no meu coração alegria e ideias que um dia sonhei e hoje estão se tornando realidade. Conheci povos, aprendi sobre a importância da unidade, da organização, das raízes ancestrais — que não podemos esquecer.” Jessica Naomi Guatatuca, Nacionalidade Quechua – Equador

O Intercâmbio foi organizado pela FOIRN, ISA e GT Gestão Regional do Conhecimento da ANA e foi financiado a partir do componente regional do Projeto TerrIndigena da Agência sa de Desenvolvimento (AFD) e French Facility for Global Environment (FFEM).

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