No Wayamu, mulheres indígenas fortalecem saberes tradicionais com a pimenta em pó

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Adoção de boas práticas pode agregar valor à pimenta cultivada em hortas comunitárias dentro das aldeias

Texto: Angélica Queiroz  413n53

Liderança de aldeia Bateria, no Rio Mapuera, colhendo pimentas em sua horta. (Foto: Giulia Cezini)

No Território Wayamu, em especial no rio Mapuera, a pimenta é mais que um tempero tradicional, é parte do dia a dia das mulheres. Valorizar a cultura local a, entre outros aspectos, pela transmissão entre gerações, em que as mais velhas ensinam às mais jovens o cultivo das principais espécies, que são plantadas em hortas dentro das aldeias e acompanhadas do cultivo até a colheita. São muitas as variedades, com tempos variáveis de maturação e formas de preparo que conferem sabores únicos aos pratos. 

Fazem parte desse conhecimento os métodos de preparo, como a desidratação ao sol ou a técnica do moqueio, uma espécie de defumação feita no interior de cestos de palha de arumã produzidos nas comunidades (tipiti). Com o uso de artefatos tradicionais, como cabaças, colheres de pau, cestarias de arumã e peneiras, elas produzem pimenta em pó, formato que não só facilita o uso, como também melhora a durabilidade, o armazenamento e o transporte do fruto.

Formato em pó facilita uso, armazenamento e transporte da pimenta. (Foto: Pilar Saldanha/ Iepé)

A Associação de Mulheres Indígenas do Município de Oriximiná (AMIRMO) tem trabalhado para fortalecer essa produção, que se apresenta como uma alternativa econômica para várias famílias do território Wayamu, numa região que compreende quatro Terras Indígenas (TIs): Trombetas-Mapuera, Nhamundá-Mapuera, Kaxuyana-Tunayana e Ararà. Na associação, existem muitas produtoras da pimenta asîsî, palavra na língua waiwai que se refere à pimenta em pó. 

A cacica geral da aldeia Mapuera, Eliane Woxixaki, é uma delas e ressalta que o fruto é parte da cultura das mulheres da região. “Já existia pimenta antes de nós, nossos anteados já produziam há muito tempo e nossa geração continua produzindo para temperar a comida, como nossas carnes e peixes. Para nós, a pimenta é cotidiano”, conta. “Mas também queremos ganhar o nosso dinheiro vendendo”, completa a cacica.

Monitoramento e rastreabilidade

No mês de maio, a associação deu mais um o para ampliar sua capacidade de executar projetos e melhorar as vendas da pimenta, reunindo cerca de 40 mulheres da comunidade para uma atividade de sensibilização e formação sobre temas como monitoramento e rastreabilidade, boas práticas importantes para fortalecer a comercialização da pimenta do Mapuera.

Atividade de formação reuniu mulheres na aldeia Mapuera. (Foto: Teule Lemos )

A oficina foi realizada pela AMIRMO, em parceria com a Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora), o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e o Iepé. A atividade, que aconteceu na aldeia Mapuera, contou com a participação da presidenta da Coopaflora, Daiana da Silva, que abordou aspectos práticos para a comercialização, incluindo custos e investimentos necessários para que uma cooperativa mista compre e fracione pimenta para revenda, dentro das normativas da Anvisa e com responsabilidade fiscal. 

A partir da formação, as mulheres do Mapuera devem ar a organizar melhor as informações de rastreabilidade. Na prática, isso significa que elas poderão registrar informações como nome, aldeia, peso e se a pimenta leva sal ou não, antes de enviar o produto para a cidade, onde a pimenta é vendida à granel em feiras e comércios alternativos ou para empresas parceiras, como a Deveras e a Cacauaré. 

Formação em rastreabilidade da pimenta em pó com diretoria, corpo fiscal e coordenadoras da AMIRMO na aldeia Mapuera. (Foto: Pilar Saldanha/ Iepé)

Outro destaque da atividade foi o cadastramento das produtoras de pimenta do rio Mapuera no Origens Brasil, uma plataforma que conecta produtores indígenas, ribeirinhos, quilombolas e extrativistas a empresas e consumidores que valorizam produtos com origem rastreável, manejo sustentável e impacto socioambiental positivo. “Essa é uma forma de ampliar a rede e de colocar as mulheres como protagonistas da cadeia de valor da pimenta em pó, da qual são criadoras e produtoras desde o cultivo até o beneficiamento, e depois, no envio da TI para a comercialização a partir da cidade”, detalha a assessora do Iepé, Pilar Saldanha.

Nos próximos meses, a AMIRMO deve lançar uma nova identidade visual para comercializar a pimenta em uma tiragem que deve ajudar na divulgação sobre a produção das mulheres do rio Mapuera, agora com sua própria marca. 

As atividades foram viabilizadas por meio da parceria entre a AMIRMO e o Iepé, com apoio da Rainforest da Noruega, da Bezos Earth Fund e da Nia Tero.

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