O Programa Wajãpi é mais antigo do que o próprio Iepé e foi uma das bases para sua criação, tendo se iniciado em 1992 no Centro de Trabalho Indigenista (CTI). No decorrer das quase três décadas de existência do programa, destacam-se as ações em prol da demarcação e permanente fiscalização da Terra Indígena Wajãpi (TIW), a formação de professores, agentes de saúde, pesquisadores e agentes socioambientais wajãpi e o apoio à constituição e atuação do Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina, fundado em 1994, e da Associação Wajãpi Terra, Ambiente e Cultura – Awatac, criada em 2010. l1i5k
Nos últimos anos, o foco da atuação do Programa vem sendo a assessoria à elaboração e implementação do Plano de Gestão Socioambiental da Terra Indígena Wajãpi (publicado em 2017), que visa fortalecer as formas específicas pelas quais os Wajãpi se relacionam com seu território e com os ambientes que o compõem.
Esta linha de atuação envolve também o apoio à articulação dos Wajãpi com órgãos governamentais e comunidades vizinhas em defesa da conservação da floresta e de alternativas de desenvolvimento sustentável para a região.
Nós caciques primeiro falamos com o Iepé, aí o Iepé faz o que a gente precisa. O Iepé não decide sozinho não. Primeiro nós caciques chamamos o Iepé pra fazer reunião, pra escutar o que nós queremos. Quando os caciques Wajãpi querem o trabalho do Iepé, o Iepé vai na aldeia e faz reunião para escutar a comunidade. O governo tem que reconhecer o trabalho do Iepé, tem que reconhecer a formação que o Iepé faz de professor, pesquisador e agente de saúde. Assim o trabalho do Iepé vai melhorar muito.
Kasiripinã Wajãpi, chefe de aldeia
Para promover o fortalecimento político dos Wajãpi, o Iepé tem apoiado a realização de encontros de chefes, de mulheres, de jovens e as assembleias do Apina e da AWATAC. A equipe do Programa Wajãpi presta assessoria direta aos coordenadores destas duas organizações e apoia a produção e divulgação de documentos sistematizando acordos internos e demandas coletivas dos Wajãpi.
Ainda no âmbito das ações para o fortalecimento político, o Programa fomentou a elaboração do Protocolo de Consulta e Consentimento Wajãpi, o primeiro protocolo autônomo elaborado por um povo indígena brasileiro. Publicado em 2014, desde 2017 o protocolo está sendo aplicado em um primeiro caso de consulta prévia aos Wajãpi, também acompanhado pelo Programa, relacionado às regras de ocupação e uso de uma área situada no entorno da TIW.
Como parte da implementação do Plano de Gestão Socioambiental da TIW, o Iepé tem apoiado ações de vigilância, limpeza de picadas e expedições para os limites da TIW, de maneira a promover o padrão tradicional de ocupação territorial wajãpi, baseado na dispersão das aldeias e na mudança periódica dos locais de moradia e plantio. Esta forma de ocupação do território contribui para a renovação dos recursos naturais necessários a seu bem viver.
O Iepé tem promovido a formação continuada de 32 Agentes Indígenas de Saúde (AIS) de todas as regiões da Terra Indígena, de maneira que estes possam acompanhar as famílias wajãpi nos locais de mais difícil o da área. Além disso, o Iepé atua na formação de Agentes Socioambientais Wajãpi (ASA), cuja etapa inicial foi concluída em 2020 em parceria com o Instituto Federal do Amapá (IFAP), em que 27 ASA são formados como Técnicos em Meio Ambiente.
Os Wajãpi tiveram sua arte gráfica e saberes orais registrados como Patrimônio Cultural lmaterial do Brasil, em 2002, e proclamados como Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2003. Este reconhecimento serviu como incentivo para a realização de uma série de atividades que visam fortalecer, valorizar e difundir seus conhecimentos e práticas tradicionais.
Em 2009, foi concluída a construção de um Centro de Formação e Documentação Wajãpi, dentro da Terra Indígena Wajãpi, destinado a apoiar as atividades do Plano de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Wajãpi, bem como para a realização de cursos, oficinas, reuniões, assembleias e abrigo de toda a documentação produzida pelos e sobre os Wajãpi.